O ano de 2017 corria muito bem para mim. Em casa, meu filho crescia saudável e inteligente. No trabalho, apesar de alguns reveses, tudo tranquilo e minha esposa conseguia turmas com mais frequência (ela é professora de turismo no sistema S). Até aqui no blog, as coisas iam bem. Pela primeira vez conseguia imprimir uma certa regularidade, com postagens a cada 15 dias, e isso apesar de toda a atenção que uma criança com quase dois anos de idade requer dos pais, não importando a hora, o momento ou cansaço. Especialmente cansaço.

Mas ainda assim, algumas coisas começavam a me incomodar. Mesmo estando num emprego relativamente estável, numa das maiores instituições de ensino particulares do Norte e Nordeste do Brasil, eu não me sentia plenamente satisfeito por uma série de motivos. Dos que mais me incomodavam a citada relativa estabilidade era, com certeza, o primeiro da lista. A possibilidade de perder o emprego (ainda mais com a conjuntura política e econômica em nosso país degringolando a olhos vistos), seria um golpe considerável na economia doméstica, mesmo com o salário considerável de minha esposa.

Eu comecei a trabalhar na Universidade Tiradentes (Unit) no início de 2012, para exercer o cargo de Assistente Acadêmico do curso de Design de Interiores. Por essa época eu ainda ensinava Geografia em uma escola particular em Aracaju e pude conciliar as duas atividades, pois minhas aulas se concentravam nas manhãs de quinta e sexta, enquanto o trabalho na Unit era de uma jornada de 4 horas no turno da noite de segunda a sexta e nas manhãs de sábado. Quase um ano depois, eu acabaria assumindo a Assistência Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo onde cumpriria uma jornada de 8 horas diárias, nos turnos matutino e noturno. Com isso não houve como continuar a dar aulas.

Danilo Oliver UNIT
Prédio da Reitoria da Universidade Tiradentes (Unit) em foto de Danilo Oliver

A medida que o tempo ia passando eu ia me convencendo de duas coisas: primeira, que, apesar do salário razoável a relativa estabilidade naquele emprego não era o suficiente para deixar meu sono mais tranquilo. Com o nascimento do meu filho em 2015 o medo de receber a temida demissão tornou-se um pouco maior. Apesar de minhas avaliações positivas com meus gestores, por tratar-se de uma empresa privada demissões poderiam ocorrer por “n” motivos. Com o cenário político-econômico que se desenhava bem definido já naquele não tão distante 2015, cortes de pessoal para contenção de custos era uma realidade cada vez mais plausível.

A segunda coisa da qual eu me convencia cada vez mais era a vontade de retornar a lecionar. Trabalhando e praticamente vivendo a maior parte do dia num ambiente acadêmico, lidando com professores e alunos de uma área tão ligada a minha formação de licenciatura em Geografia, a saudade das salas de aulas, mesmo com todos seus desafios (ou justamente por causa deles, quem sabe), só fazia aumentar.

Pensando em tudo isso e após muitas conversas com minha esposa, comecei a visar o estudo para concursos públicos. Uma vez que não existia perspectiva de abertura de concursos para licenciatura por essa época, fui me inscrevendo nos que apareciam. Meu intuito com isso não era somente ir treinando para quando surgissem os de licenciatura, mas também pensando que se passasse em alguns deles poderia pelo menos me beneficiar da estabilidade mais garantida se comparada a do meu emprego até então, além dos salários via de regra superiores aos que eu vinha recebendo. Assim participei de provas para Polícia Civil do Estado de Sergipe, Polícia Federal e Rodoviária Federal, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Banco do Brasil e outros, com resultados bem variados, mas que iam me mostrando onde e como melhorar.

E assim cheguei ao decisivo ano de 2017. Eu não sabia ainda, mas aquele seria um ano que mudaria minhas perspectivas de passar num concurso público. Tudo corria mais ou menos como nos anos anteriores. Isso até o mês de julho. Aproveitando o período de férias acadêmicas, a coordenação do curso de Arquitetura decidiu aproveitar a calma típica dessa época para fazer o transporte de duas maquetes imensas e pesadas. Tais maquetes tinham sido doadas por uma grande construtora local ao curso e fui incumbido de cuidar da logística do seu transporte até o campus. Tudo corria bem até que, num momento de total descuido meu, acabei fraturando a ponta da 3ª falange (ou falange distal) do dedo anelar da mão esquerda, literalmente prensado entre a pesada base da maquete e o soalho do caminhão que realizava o transporte.

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Esquema bem didático dos ossos da mão

Apesar de aparentemente ser uma fratura de menor gravidade, precisei ficar afastado do trabalho por 45 dias. Foi graças a esse período de afastamento que pude me dedicar de modo ainda mais intenso aos estudos. E não poderia ser em época melhor, pois apenas três meses depois de findo o afastamento, foi anunciado a abertura do concurso público para professor no estado da Bahia, bem como para o de Alagoas, pouco mais de mês e meio depois. Graças ao infortúnio da fratura no dedo e o consequente afastamento do trabalho eu estava realmente preparado para o concurso que realmente desejava realizar.

Em fevereiro de 2018 realizei a prova da Bahia e em abril a de Alagoas. Em julho do mesmo ano os resultados foram publicados. Para minha alegria e satisfação fui aprovado em ambos, com o bônus surpresa e totalmente inesperado para mim de uma excelente 3ª colocação no certame baiano e um excepcional primeiro lugar no alagoano em minhas respectivas área e núcleo de educação escolhidos.

Finalmente, no dia 16 de janeiro de 2019 fui oficialmente convocado a assumir o cargo de Professor de Geografia na rede estadual de ensino da Bahia, pouco mais de um mês depois de ter sido desligado da UNIT. Uma vez que minha esposa é baiana, optamos por morar em sua cidade natal, o município de Jeremoabo no nordeste baiano, próximo a cidade de Paulo Afonso. Essa decisão foi tomada não apenas pela proximidade de sua família, mas também pela vontade de fugir dos problemas urbanos cada vez mais comuns em Aracaju, cidade que nos últimos anos passou por um crescimento significativo, tornando-se assim um pouco mais violenta e cara. Optando por morar em Jeremoabo unimos assim o desejo de estarmos mais próximos da família ao de viver numa localidade mais tranquila e com menor custo de vida.

Praça Cel. Antônio Lourenço de Carvalho Jeremoabo
Praça Cel. Antônio Lourenço de Carvalho em Jeremoabo-BA, a popular Praça do Frescão

Desde o dia 14 de fevereiro, quando tomei posse no Colégio Estadual José Lourenço de Carvalho, eu, minha esposa e meu filho nos mudamos em definitivo para a cidade, onde estamos residindo desde então. Esse, aliás, é um dos motivos da publicação de textos aqui no blog ter praticamente parado nos últimos meses. Além de minhas obrigações como professor, houve toda a questão referente a mudança e acomodação numa nova cidade. Hoje, já com as coisas mais tranquilas, pretendo retomar a regularidade das postagens. Especialmente agora acredito que terei muitos e variados motivos para escrever. Especialmente nesse momento tenebroso de nosso país em que nós, professores e professoras, fomos alçados a condição de inimigo público da nação.

Gostaria de finalizar esse texto agradecendo publicamente algumas pessoas que foram extremamente importantes em minha jornada no período em que trabalhei na Universidade Tiradentes. Inicialmente gostaria de agradecer aos Professores(as) Ricardo Mascarello, Pedrianne Barbosa, Dora Diniz que, em diferentes momentos atuaram como coordenadores do curso de Arquitetura e Urbanismo. Agradeço também aos professores(as) Simone Prado e Gabriel Mendonça que por sua vez atuaram na qualidade de coordenadores adjuntos. A eles agradeço não só por terem sido admiráveis gestores sempre respeitosos e acessíveis, mas também pela amizade nutrida e cultivada mesmo no corrido e nem sempre calmo ambiente de trabalho. Agradeço também pelos ensinamentos os mais variados, que nunca ficavam resumidos apenas as suas atribuições de gestores. Especialmente valiosas foram as lições sobre como a Geografia pode e deve dialogar com a Arquitetura e Urbanismo.

Nesse ínterim, não poderia deixar de agradecer aos demais professores do curso, bem como os coordenadores e coordenadores adjuntos dos cursos que funcionavam no mesmo bloco que o de Arquitetura e Urbanismo. Também a esses excelentes profissionais os quais me desculpo desde já por não os citar nominalmente já que, se o fazendo, corro o risco de ser injusto ao esquecer de algum nome, manifesto aqui minha gratidão.

Finalmente, agradeço aos colegas Assistentes Acadêmicos dos demais cursos com quem convivi e conjuntamente trabalhei. Colegas que se tornaram bons amigos a exemplo de Sérgio, Paulo Alexandre, Gustavo, Ana, Rebecca, Glória, Yuri, Antônio, Nadja, Aparecida, Amora.

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5 comentários em “FOI O MELHOR DOS TEMPOS…

  1. Parabéns nosso eterno presidente. Será sempre lembrado pelo seu legado e amizade nas horas certas e incertas. Forte abraço !

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